Sunday, March 29, 2009

Rir Tendo Consciência da Tragédia




Sentei-me na cadeira de madeira, naquela sala empoierada com mais outras 30 pessoas... Paredes de um vermelho vivo que morre com o apagar das luzes, que se ilumina com o projector, com a morte anunciada dos personagens do vídeo... O gato tresmalhado que não existe, o Tobias, o Ruca e outros tantos que se perderam no telhado por entre os astronautas de chapéu de chuva vermelho como as paredes, que gritam de cima da ponte com um megafone...


Doeu-me tanto o teu corpo, o corpo e as estranhas que se revolviam à medida que falavam dele, de vocês e de mim mesma... Entre mim o silêncio dos toques, dos saltos altos, dos gestos repetidos, de uma vida de bohémia, de transgressão, de afirmação, de conquista... Aquele pedaço que constrange, que às vezes irrita, como a ferida que teima e sarar mas continua a dar comichão... Emocionei-me... por conhecerem as ruas escuras de cor, os becos, o sabor de bocas que não foram desejadas e de corpos que não queremos que nos toquem... tudo no meio do decadente...porque a vida é decadente, tão decadente que até na hora da morte nos deparamos com uma costeleta que nos sufoca ou um caixão que não cabe dentro da gaveta... A decadência de sermos alguma coisa depois de deixarmos de ser, de sermos alguém depois de já não existirmos... O sorriso que mora na boca e está na gaveta entre as meias quentinhas para usar num dia de chuva enquanto andamos por casa no chão de tijoleira e a tragédia de apodrecermos mais um bocado a meio de cada pensamento... A tragédia é tão bonita de ver... Os olhares pretos, as covas que se formam ao pé do esboço da dor... E a tragédia dos outros então... Os dias ridículos, as mãos ridículas, as juras ridículas, os gestos ridículos, as mentiras ridículas...


Vi-vos naquela sala mas eram outros por vezes...maiores, mais velhos, mais sólidos, mais bonitos...E vilsumbrei-vos no meio de outras fotografias e recortes colados na parede por entre as pulmas, as lantejolas, a àgua, as pausas e o ribombar da bateria... Tive vontade de me levantar confesso, de escrever, de ficar horas a fio naquele espaço ao início vazio, entre bolachas do Egas e do Becas e dos sumos do Lidl e exercícios que levam o corpo ao limite... Quis voltar, senti orgulho e ao mesmo tempo quis deixar-me ficar ali em silêncio, a rir com os vossos fados e funks só a ver-vos pelo espelho, pela janela... Foi bom... Ri-me tendo consciencia da tragédia...


Para quem não viu? Quem sabe não ha uma reposição? Quem são? São o há-que-dize-lo! São meus amigos e são mesmo bons!! Espero que venham subsídios rápido pois amores como estes existem tão poucas vezes!

Friday, March 27, 2009

Spirit e Autocarro 174












Dois dias seguidos dois filmes.
Primeiro o Spirit. Fiquei fã do Frank Miller quando vi o Sin City, adoro as cores, e a fotografia dos filmes dele. O ambiente BD, a escuridão do atormentado personagem, a gravata berrante, e a loucura dos vilões. Neste há um vilão dos grandes, o lunático Samuel L. Jackson e a sua companheira Scarlett. De resto, há que dizer que o personagem principal podia ter sido melhor escolhido e que transformou o filme do Frank Miller num filmezito com vermelhos...
Fui também ver o Autocarro 174, um filme brasileiro do qual esperava muito mais. Num ambiente de favela como o Cidade de Deus, com histórias de droga, prostituição e um futuro que parece escolhido à partida, falta uma densidade nos personagens que nos aproxime e que nos ligue ao drama do dia a dia. Os actores talvez pudessem ter sido outros, ou talvez devesse ter sido filmado de outra forma não sei... Sei que saímos de lá com a sensação de que vimos o filme de fora, a história acontecer ali na tela e nós refastelados a comer pipocas. Não nos deixa a pensar, não põe em causa, não nos aproxima, não nos revolta...falta sentimento, despertar sentimento...Falta ter sido qualquer coisa...
E com isto tudo ainda não vi o O leitor...

Saturday, March 21, 2009

Sabes o que dói mais?O teu silêncio...
Sabes o que magoa mais? Que sempre que estou pior te afastes.
Sabes o que ainda é pior?Dás-me o teu silêncio irónico e eu não tenho o teu dicionário.

Thursday, March 19, 2009

cenas...


Sabe bem estar. Estar contigo, estar comigo, estar a sós.
No rebuliço dos sacos de papel, de plástico, de papel e plástico... no meio das malas, dos necessaires e dos arquivos em cima da mesa do café. Aqueles arquivos empoeirados, jogados para dentro de uma pasta, sem furar, sem organizar, sem nada. O verde que grita, o verde que é BES, que é seguro, que afinal é só mais um folheto no meio do passeio.
As setas, os elevadores e a música que preenche o vazio das pessoas. Os espelhos que gritam dietas e os lavabos onde se cortam as costas do colega do lado, isso enquanto se lava as mãos, retoca a maquilhagem ou se limpa os óculos. Livros, carteiras, bibelots, sapatos, máscaras, cebolas, beterrabas, máquinas fotográficas, vestidos e pensos higiénicos. Eu penso que é pouco higiénico toda esta misturada, salganhada de padrões, de patrões e de empregados...
Dói-me o pulso, arrasto a cadeira, cruzo as pernas, procuro o tabaco mas afinal não fumo...só deixo esfumar o tempo, condensar a espera e viajar a paciência.
Não sei se fico, se vou, se quero, se te quero, se penso, do que preciso, do que mereço, com o que sonho, onde pertenço...não sei nada afinal...ou sei que não sei nada...
Sei que espero por ti e não vens, não conversas, não escutas, não estás, não prometes, não desejas, não voltas, não olhas, não nada...
Outra vez nada...Sinto-me no nada, no vazio, entre uma comporta e um rio prestes a secar... Devo deixar sair a àgua, devo desabar, soltar, gritar até arranhar a garganta, até sangrar... Devo conter? Deixar o rio morrer à sede, sufocar, suspirar, suster até se findar? Destruição das duas formas, das duas maneiras... E a destruição é o nada, o zero, o início, o fim, o abandono...

Sunday, March 15, 2009

Cheira a Primavera e sabe a Verão este tempo...

Gran Torino


Fui ver este filme que me tinha despertado curiosidade há uns meses e...
Rendi-me ao rosnar, ao olhar, às palavras sem máscaras, a todo um mundo que rodeia o velho, o sábio, o odioso, o arrogante, o distante, o alheado, o sovina, o americano que é polaco afinal...O peso de conviver com a morte, o ainda maior de conviver com a vida, com a guerra e com quem se matou, com quem vive ao nosso lado e se conhece mais do que à nossa família... A família que é na maior parte das vezes a que escolhemos... Não fossem as luzes terem acendido demasiado cedo e tinha chorado mais.. Ainda estou a absorver tudo o que me ficou na retina da noite anterior...muito bom, demasiado bom...muito Clint Eastwood.

Thursday, March 12, 2009

Wednesday, March 11, 2009

pensamentos

Assusto-me comigo... Ás vezes agarro uma folha como se fosse uma sólida jangada que me levará a algum porto... Depois com qualquer sopro de vento vou ao fundo...

Tuesday, March 10, 2009

Sobre mim...dizem...

"Rossana has long been one of my favourite thinkers - able to crystallize half-formed ideas into glittering, brilliant insights that make me think, yes, of course, that's how it all works"**


** pronto não disseram sobre mim mas podia ser...num futuro longínquo quando os carros forem como os dos Jetsons


Mais uma sessão de cinema, a Dúvida. Nem vale a pena falar nos actores, que estão tremendamente bem, mesmo uma Amy Adams para mim desconhecida...Quanto ao filme propriamente dito a Dúvida instala-se, permanece e não se esvai e pronto temos filme. Fiquei surpreendida, talvez porque esperasse menos... mas agora tenho menos um na lista...

Wednesday, March 04, 2009

Ontem fui finalmente ver o Milk!Passados 2 minutos de filme e para mim era perfeitamente aceitável e credível que o Sean Penn fosse gay! Excelente filme sobre luta de direitos e contra a discriminação, o preconceito e a vontade de mudar as coisas. Surpreendi-me e compreendo o Óscar.
Agora ha mais na calha:
- The Wrestler
- O rapaz do Pijama às riscas
- A dúvida
- O leitor
- Gran Torino