Sentei-me na cadeira de madeira, naquela sala empoierada com mais outras 30 pessoas... Paredes de um vermelho vivo que morre com o apagar das luzes, que se ilumina com o projector, com a morte anunciada dos personagens do vídeo... O gato tresmalhado que não existe, o Tobias, o Ruca e outros tantos que se perderam no telhado por entre os astronautas de chapéu de chuva vermelho como as paredes, que gritam de cima da ponte com um megafone...
Doeu-me tanto o teu corpo, o corpo e as estranhas que se revolviam à medida que falavam dele, de vocês e de mim mesma... Entre mim o silêncio dos toques, dos saltos altos, dos gestos repetidos, de uma vida de bohémia, de transgressão, de afirmação, de conquista... Aquele pedaço que constrange, que às vezes irrita, como a ferida que teima e sarar mas continua a dar comichão... Emocionei-me... por conhecerem as ruas escuras de cor, os becos, o sabor de bocas que não foram desejadas e de corpos que não queremos que nos toquem... tudo no meio do decadente...porque a vida é decadente, tão decadente que até na hora da morte nos deparamos com uma costeleta que nos sufoca ou um caixão que não cabe dentro da gaveta... A decadência de sermos alguma coisa depois de deixarmos de ser, de sermos alguém depois de já não existirmos... O sorriso que mora na boca e está na gaveta entre as meias quentinhas para usar num dia de chuva enquanto andamos por casa no chão de tijoleira e a tragédia de apodrecermos mais um bocado a meio de cada pensamento... A tragédia é tão bonita de ver... Os olhares pretos, as covas que se formam ao pé do esboço da dor... E a tragédia dos outros então... Os dias ridículos, as mãos ridículas, as juras ridículas, os gestos ridículos, as mentiras ridículas...
Vi-vos naquela sala mas eram outros por vezes...maiores, mais velhos, mais sólidos, mais bonitos...E vilsumbrei-vos no meio de outras fotografias e recortes colados na parede por entre as pulmas, as lantejolas, a àgua, as pausas e o ribombar da bateria... Tive vontade de me levantar confesso, de escrever, de ficar horas a fio naquele espaço ao início vazio, entre bolachas do Egas e do Becas e dos sumos do Lidl e exercícios que levam o corpo ao limite... Quis voltar, senti orgulho e ao mesmo tempo quis deixar-me ficar ali em silêncio, a rir com os vossos fados e funks só a ver-vos pelo espelho, pela janela... Foi bom... Ri-me tendo consciencia da tragédia...
Para quem não viu? Quem sabe não ha uma reposição? Quem são? São o há-que-dize-lo! São meus amigos e são mesmo bons!! Espero que venham subsídios rápido pois amores como estes existem tão poucas vezes!