Cabelos loiros, sorriso tímido e um olhar que tenta apreender o máximo de informação no mínimo tempo possível. Acha que vai mudar o mundo. Tem 18 anos, acabou de concluir o 12º ano na antiga Escola Secundária de Sines, a que hoje tem o nome do poeta que escreveu “O anjo mudo”, um dos seus livros de cabeceira. Nunca reprovou, é aluna de 15. Sempre quis ir para a faculdade, escrever um livro e conhecer o mundo, aliás é apaixonada pelas viagens e pela sensação de transportar as recordações em fotografias.
Respondeu a um anúncio de jornal e foi seleccionada para se tornar oficial da Força Aérea. Porquê este ramo das forças armadas? Há quem diga que tem a ver o seu estado, constantemente descrito como “cabeça no ar”, ela justifica com a sua necessidade de desafio. Encheu uma mochila cheia de ilusões e partiu em busca de um rumo que a fizesse encontrar o caminho dos seus objectivos. Não é pela guerra, acredita no poder do diálogo ao invés da violência.
Recorda-se do dia 7 de Maio de 2001 como ventoso e um pouco chuvoso, tal como tantos outros dias daquele mês de recruta (que iria variar entre o Inverno gélido e o verão sufocante). Estava no meio de uma multidão onde a maioria eram rapazes, cujas idades variavam entre os 18 e os 25, as poucas raparigas iriam conhece-la pelo nome próprio ou pelo apelido dentro de pouco tempo. Atribuíram-lhe uma cama de ferro verde que combinava com um enorme armário, as duas únicas peças da sua mobília, num quarto que dividia com mais 11 raparigas, que viria a aprender chamar-se camarata! O tom da “recepção” aos novos recrutas era autoritário, assertivo e com pouco espaço para distraídos e perguntas banais, aliás cada pergunta banal equivaleria a benefícios corporais, que podem ser flexões, meias flexões, abdominais, pulos de galo, corridas, marcha, ou até todos. Despiu a pele de civil e abraçou o camuflado. O tempo no Centro de Formação Militar e Técnico da Força Aérea corria entre o vagarosamente (nos numerosos treinos, marchas e trocas constantes de fardamento) e o demasiado rápido (nos 5 minutos para tomar banho e estar pronto no sitio combinado, nas horas de sono, de refeição…). As histórias que guarda para contar são imensas, tal como as dores nos pés e as bolhas (que se tornariam calos nos calcanhares) causadas pelas botas. Foram tantas as corridas a meio da noite pela floresta, os suores, as gargalhadas, os medos, as inúmeras partidas dos camaradas e o stress de viver 24h com as mesmas pessoas!
Jurou bandeira e comprometeu-se a proteger o país, a Constituição e as leis da República. Desse dia recorda-se do orgulho que sentiu ao cantar o hino nacional. Foram muitas as provas superadas... Aprendeu o espírito de grupo, o sacrifício do todo pela luta dos objectivos comuns, o espírito de corpo. Ainda sorri ao pensar nas sessões de tiro, na orientação e a semana de campo (nesta o seu tecto era um pano triangular a centímetros do chão onde dormia com os pés de fora mesmo só tendo 1, 58m!). Nunca se achou menosprezada por ser mulher e sempre se orgulhou de fazer as mesmas provas que os rapazes, embora afirme que nem sempre pode ser fácil chefiar um pelotão de 30 homens! O importante é ser convicta! Nove meses depois terminou a sua formação na Ota e foi colocada na Base Aérea das Lajes na ilha Terceira, nos Açores.
Conheceu a ilha de trás para a frente e desdobrou-se entre a chefia do sector de alojamentos de praças, organização de cerimónias militares, o sector de fotografia e o de desporto por 2 anos e 4 meses. Colaborou (como oficial de operações) e assistiu inúmeras vezes à ajuda prestada pelos militares à população, onde entre outras se incluem resgate e salvamento a náufragos e embarcações e o transporte de doentes e de grávidas entre ilhas. Nunca se esquecerá dos inúmeros concertos, das peças de teatro, das viagens de C-130, do cheiro a verde e a mar e daqueles recantos que pareciam nunca pisados pelo homem que descobria quando nos fins-de-semana partia pela ilha por caminhos de terra e à sorte escolhia a direita ou a esquerda numa bifurcação.
Hoje, é a Sra Tenente da Força Aérea e trabalha em Lisboa, já serve a farda azul com o símbolo da Fénix há cerca de 6 anos. Estuda, é finalista do curso que sempre quis e que tenciona exercer (Publicidade e Marketing na Escola Superior de Comunicação Social). Quando despe a farda é uma entre tantos que sobem e descem as ruas da capital. Normalmente opta pelas cores vivas que espelham a alegria com que se identifica. Costuma dizer-se que a tropa torna os meninos em homens de barba rija, ela porém não considera que o facto de se ter tornado militar a tenha tornado uma mulher diferente, apenas proporcionou um crescimento e um amadurecimento mais rápido. Cedo soube o peso da responsabilidade, da independência e o que é lutar sozinha pelo que se acredita. Vê a vida como uma escada gigante onde é importante cada degrau. Apesar do posto hierárquico que possui não prefere a autoridade, acredita que a vontade, a união e a inter ajuda são mais eficientes. No local de trabalho acha que rir é o ponto-chave para a produtividade, celeridade dos processos e do bom ambiente.
Pelos altos e baixos destes anos descobriu as artes: o teatro, a literatura, a pintura e a escrita. Ainda não escreveu um livro completo! As viagens que a apaixonavam continuam a seduzi-la e podem ser uma cidade estrangeira, um passeio pelo Chiado ou pelo silêncio na boca das falésias de Porto Côvo… Ainda não conheceu o mundo, mas nos seus cadernos de viagens, guarda memórias e sorrisos congelados das fotos nas ruas de Londres, Bruxelas, Bruges, Amesterdão e Madrid. Se não estiver na base é fácil encontra-la, de mala às costas, livro, máquina fotográfica, a ouvir rock, absorta em pensamentos e imaginações sobre mudar o mundo, agora já não todo, só um bocadinho…
Respondeu a um anúncio de jornal e foi seleccionada para se tornar oficial da Força Aérea. Porquê este ramo das forças armadas? Há quem diga que tem a ver o seu estado, constantemente descrito como “cabeça no ar”, ela justifica com a sua necessidade de desafio. Encheu uma mochila cheia de ilusões e partiu em busca de um rumo que a fizesse encontrar o caminho dos seus objectivos. Não é pela guerra, acredita no poder do diálogo ao invés da violência.
Recorda-se do dia 7 de Maio de 2001 como ventoso e um pouco chuvoso, tal como tantos outros dias daquele mês de recruta (que iria variar entre o Inverno gélido e o verão sufocante). Estava no meio de uma multidão onde a maioria eram rapazes, cujas idades variavam entre os 18 e os 25, as poucas raparigas iriam conhece-la pelo nome próprio ou pelo apelido dentro de pouco tempo. Atribuíram-lhe uma cama de ferro verde que combinava com um enorme armário, as duas únicas peças da sua mobília, num quarto que dividia com mais 11 raparigas, que viria a aprender chamar-se camarata! O tom da “recepção” aos novos recrutas era autoritário, assertivo e com pouco espaço para distraídos e perguntas banais, aliás cada pergunta banal equivaleria a benefícios corporais, que podem ser flexões, meias flexões, abdominais, pulos de galo, corridas, marcha, ou até todos. Despiu a pele de civil e abraçou o camuflado. O tempo no Centro de Formação Militar e Técnico da Força Aérea corria entre o vagarosamente (nos numerosos treinos, marchas e trocas constantes de fardamento) e o demasiado rápido (nos 5 minutos para tomar banho e estar pronto no sitio combinado, nas horas de sono, de refeição…). As histórias que guarda para contar são imensas, tal como as dores nos pés e as bolhas (que se tornariam calos nos calcanhares) causadas pelas botas. Foram tantas as corridas a meio da noite pela floresta, os suores, as gargalhadas, os medos, as inúmeras partidas dos camaradas e o stress de viver 24h com as mesmas pessoas!
Jurou bandeira e comprometeu-se a proteger o país, a Constituição e as leis da República. Desse dia recorda-se do orgulho que sentiu ao cantar o hino nacional. Foram muitas as provas superadas... Aprendeu o espírito de grupo, o sacrifício do todo pela luta dos objectivos comuns, o espírito de corpo. Ainda sorri ao pensar nas sessões de tiro, na orientação e a semana de campo (nesta o seu tecto era um pano triangular a centímetros do chão onde dormia com os pés de fora mesmo só tendo 1, 58m!). Nunca se achou menosprezada por ser mulher e sempre se orgulhou de fazer as mesmas provas que os rapazes, embora afirme que nem sempre pode ser fácil chefiar um pelotão de 30 homens! O importante é ser convicta! Nove meses depois terminou a sua formação na Ota e foi colocada na Base Aérea das Lajes na ilha Terceira, nos Açores.
Conheceu a ilha de trás para a frente e desdobrou-se entre a chefia do sector de alojamentos de praças, organização de cerimónias militares, o sector de fotografia e o de desporto por 2 anos e 4 meses. Colaborou (como oficial de operações) e assistiu inúmeras vezes à ajuda prestada pelos militares à população, onde entre outras se incluem resgate e salvamento a náufragos e embarcações e o transporte de doentes e de grávidas entre ilhas. Nunca se esquecerá dos inúmeros concertos, das peças de teatro, das viagens de C-130, do cheiro a verde e a mar e daqueles recantos que pareciam nunca pisados pelo homem que descobria quando nos fins-de-semana partia pela ilha por caminhos de terra e à sorte escolhia a direita ou a esquerda numa bifurcação.
Hoje, é a Sra Tenente da Força Aérea e trabalha em Lisboa, já serve a farda azul com o símbolo da Fénix há cerca de 6 anos. Estuda, é finalista do curso que sempre quis e que tenciona exercer (Publicidade e Marketing na Escola Superior de Comunicação Social). Quando despe a farda é uma entre tantos que sobem e descem as ruas da capital. Normalmente opta pelas cores vivas que espelham a alegria com que se identifica. Costuma dizer-se que a tropa torna os meninos em homens de barba rija, ela porém não considera que o facto de se ter tornado militar a tenha tornado uma mulher diferente, apenas proporcionou um crescimento e um amadurecimento mais rápido. Cedo soube o peso da responsabilidade, da independência e o que é lutar sozinha pelo que se acredita. Vê a vida como uma escada gigante onde é importante cada degrau. Apesar do posto hierárquico que possui não prefere a autoridade, acredita que a vontade, a união e a inter ajuda são mais eficientes. No local de trabalho acha que rir é o ponto-chave para a produtividade, celeridade dos processos e do bom ambiente.
Pelos altos e baixos destes anos descobriu as artes: o teatro, a literatura, a pintura e a escrita. Ainda não escreveu um livro completo! As viagens que a apaixonavam continuam a seduzi-la e podem ser uma cidade estrangeira, um passeio pelo Chiado ou pelo silêncio na boca das falésias de Porto Côvo… Ainda não conheceu o mundo, mas nos seus cadernos de viagens, guarda memórias e sorrisos congelados das fotos nas ruas de Londres, Bruxelas, Bruges, Amesterdão e Madrid. Se não estiver na base é fácil encontra-la, de mala às costas, livro, máquina fotográfica, a ouvir rock, absorta em pensamentos e imaginações sobre mudar o mundo, agora já não todo, só um bocadinho…