"Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não pára de mudar de direcção. Tu mudas de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de ti. Voltas a mudar de direcção, mas a tempestade persegue-te, seguindo no teu encalço. Isto acontece uma vez e outra, como uma espécie de dança maldita com a morte ao amanhecer. Porquê? Porque esta tempestade não é uma coisa que tenha surgido do nada sem nada que ver contigo. Esta tempestade és tu. Algo que está dentro de ti. Por isso, só te resta deixares-te levar, mergulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos para não deixar entrar a areia e, passo a passo, atravesssá-la de uma ponta a outra. Aqui não há lugar para o sol nem para a lua; a orientação e a noção de tempo são coisas que não fazem sentido. Existe apenas areia branca e fina, como ossos pulverizados, a rodopiar em direcção ao céu. Éuma tempestade de areia assim que deves imaginar. " (in Kafka à beira mar, Haruki Murakami)
É incrível a propriedade que os livros bons têem para se apoderar de nós. Como uma frase é brilhante na altura certa em que nos diz alguma coisa e somente "gira" quando não tem nada a ver conosco. É como as tempestades de areia... Ás vezes quando leio algo que gosto muito fico com um nervo miudinho a chatear-me ao ouvido, talvez sejam as moelas ou assim, que me diz "Fogo devias ter sido tu a escrever isto, como podem outros escrever assim desta forma sobre como tu pensas ou sentes?". Faz-me lembrar o Museo Dali, a cada quadro, obra, rabisco, colagem, vídeo, holograma do Sr eu só repetia a frase "Este senhor é estupido!!!Estupidamente bom!!", resultado ficou-me com a máquina fotográfica!!!!!
Assim resta-me continuar com a moela a chatear-me e fazer citações das minhas passagens favoritas aqui neste cantinho malfadado (bom título para um fado!). Ah e sonhar com a noite na praia, a areia nos cabelos, o mar aos pés e a partilha de reticências num saco cama...
2 comments:
Lembro-me que li algures e concordei completamente que um bom livro é aquele que é escrito por nossa causa, para nós e sobre nós. Quando não sentimos isto ao ler um livro é porque ele não nos marcou de facto... não pode ser verdadeiramente boa literatura se nos deixa indiferente, se não nos deixa saudades da emoção de folhear as suas páginas.
Fico feliz por teres encontrado um livro assim para partilhares o teu tempo...
Beijinhos ***
é mesmo verdade, um livro escrito por nossa causa...não sei se irei tão longe...mas que é um bom livro é!revelou-se mais kafkiano do que eu previa, pois eu e o sr kafka somos energias contárias, mas o murakami escreve bem que se farta!recomendo o livro!ainda não cheguei ao fim e já tenho a sensação de que gostaria muito de o reler, mesmo que agora, uma segunda vez onde tudo faria muito mais sentido!
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