Puxo a cadeira, sento-me e arrasto-a para ficar bem perto da mesa. Ligo o computador, ouço o som familiar do iniciar do Windows. Clico no word e decido de uma página em branco escrever qualquer coisa, qualquer coisa de jeito. O pior é sair qualquer coisa de jeito. Tem que ser o que alguém que não conheço considere bom ao ponto de ganhar eu o concurso. Escrevo, apago, martelo nas teclas do computador, deixo cair a cabeça no teclado, volto a levanta-la... Páro diante das frases começadas, coladas a cuspo... Estico os braços, estalo o pescoço e olho em volta... Livros e mais livros encadernados e etiquetados, normal para alguem que está numa biblioteca. à minha volta só estudantes de Medicina, Enfermagem, Engenharia... e eu ali diante de uma página em branco. Sinto-me diminuída, menos importante por não ser o futuro da construção, da operação, da cura... Apostei na invenção e isso não parece estar a resultar.... Torço a imaginação até à última gota, como se fosse roupa quando a máquina de secar avariou, como se a imaginação fosse um lençol de banho... A custo escrevo alguma coisa com qualidade, penso eu. Gravo num Cd. Abro o envelope, selo-o e envio-o. Aí dentro está uma tentativa de palavras contadas pela minha boca e pelos dedos.
Meses de espera esquecidos na prateleira...
A resposta chega e para variar nenhum prémio, nenhuma palmadinha nas costas, nada... Queria ser genialmente qualquer coisa, pronto reconhecidamente, melhor queria ter sorte, para não dizer habilidade de ganhar alguma coisa...parece que tudo em que me dedico se condena a não se concretizar...faço muito e pouco esforço, acredito mais e menos mas parece não resultar. Estou condenada ao fracasso e a viver no sonho do que poderia ter sido. Parece que falo de Portugal, mas afinal falo de mim, só de mim... Ainda acredito que Portugal pode melhorar, quanto à minha pessoa, agora no desfazer da onda da expectativa nem por isso...
Continuo a olhar o céu a ver as nuvens passar....Só queria ganhar alguma coisa...