Saturday, July 07, 2007

Nome próprio Maria... de manhã


Manhã.
O sol espreita no horizonte que ainda estremunha entre dentes que preferia ter ficado mais tempo na cama. Um devagar lento, suave e calmo que deixa entrever o movimento nas ruas e avenidas. Os cheiros das tranças, dos croissants, dos pastéis de Belém ou das bolas de Berlim que adoçam a quietude das calçadas. É um bailado com hora e minuto marcado, um movimento que rapidamente passa do silêncio a um frenesim de carros, pessoas, barcos, um montão de colégios, escritórios e muitos suspiros pelo andar que não se nota.
Descobre-se em cada passada mais ou menos apressada que há vidas que vão para além das bolhas que construímos à nossa volta ou das células que constantemente lançam dióxido de carbono e entopem a atmosfera “light” da altura. É o pardal na árvore em frente à janela (outrora despida), nos minutos em que a betoneira e o martelo pneumático sustêm a respiração. Um parque de gentes que procuram os corpos e os dinheiros dos outros que se pinta de roxo. Uma tela, um miradouro, uma luz, um pincel que se derrete na boca de um soslaio à paisagem. Um pintor que imagina, um escritor que ressaca de inspiração… Um vaivém que embate no cais preenchido por um magote de pontos negros que esvoaçam na paisagem… Um Rio que se revolta por não ser o mar de antigamente. Bocados de verde enfiados no meio do betão, que se revoltam com o cinzento tido como a cor de então. Um café. Uma vidraça. Uma espera, uma cadeira, um reflexo que bate no vidro, um sol que aquece a face. Um arrastar de pensamentos no meio do calor que descongela.
Cabelos loiros meios revoltados por não assumirem a regra do liso ou do encaracolado. Olhos azuis da cor do azul que se estende para além da luz que ilumina o quarto. Corpo esguio de criança que quer ser mulher. Um apito que quebra o sonho. Salta da cama, lava a cara com água fria para não dar tempo para o sono voltar. Uma perna e depois outra de umas calças “á pescador”, uma t-shirt colorida que fazem adivinhar que gostaria de ser artista. Botas cor-de-laranja que expressam a sua vontade de descobrir o que o novo dia encerra, talvez um encanto no cimo de umas escadas íngremes decoradas com cordas da roupa e cabos do eléctrico. Come de um trago e escova cuidadosamente o aparelho que não deixa adivinhar ao certo a idade que tem. Pasta debaixo do braço.
Apanha boleia no amarelo mais perto de sua casa. Não paga bilhete. Gosta de ver os grafittis que sujam a paisagem claustrofóbica a que prefere chamar de arte urbana. Enfia nos ouvidos os phones e escolhe cuidadosamente a música do seu Mp3. Gosta de escolher o ritmo a que a cidade se movimenta, em que os transeuntes se movem e torna aquilo tudo numa sinfonia onde é ela a maestrina. A esquizofrenia das batidas da música do momento, a coreografia ensaiada para mostrar aos amigos. Sorriso estampado no rosto de quem ainda acredita que o mundo pode ser seu. Prefere ver sempre o copo meio cheio e dizem que tem o dom de falar com imagens. Seu nome próprio Maria o seu apelido é Lisboa.

2 comments:

Jorge Bicho said...

olá minha companheira dos fogos de roda. tenho saudades de me sentar contigo, beber um chá de hortelã e saborear as palavras divididas.
beijos
JB

Roxanne W. said...

temos que voltar à conversa :)tb ja tenho saudade das trocas